O professor é capaz de ministrar aulas sem livros e sem lousa, mas não sem o seu principal instrumento de trabalho, a voz. Através dela, além de transmitir o conteúdo da aula, irradia-se emoções e intenções que atingem diretamente os ouvintes, lhes proporcionando sensações de prazer ou desprazer, despertando interesse ou desinteresse.
Em média, o professor brasileiro refere 55% de sintomas vocais a mais quando comparado a sujeitos que não são professores, ou seja, essa população específica que são os educadores, estão em uma zona de risco maior para desvios e lesões vocais e por isso, merecem maior atenção e cuidados diferenciados.
Primeiramente, é importante ter uma boa condição geral da saúde e preservar o bem-estar vocal, e para isto, é necessário que o docente esteja atento aos incômodos e esforços à fonação, evitando o desgaste vocal. Logo, poupar os músculos laríngeos de sobrecarga, evitando a fadiga é um compromisso diário, que pode ser cumprido variando o tom da fala (sons finos e grossos), o volume da voz (forte e fraco), abrindo bem a boca para melhor articular os sons e incluir intervalos de descanso para voz.
O ideal, é que todos os professores trabalhem com amplificação da voz, isto é, com o aporte do microfone, disponível em diversos modelos e variados preços, o que o torna mais acessível e, é um recurso de tamanha importância, pois diminui consideravelmente o abuso vocal e iminentemente, facilita a compreensão dos alunos. Entretanto, só isto não é o bastante, também é necessário que o ambiente seja, em termos de ruído, favorável, ou seja, o professor deve determinar a necessidade de fechar a porta ou janelas e desligar os ventiladores, por exemplo, além de pedir a contribuição dos alunos.
O hábito de falar voltado para a lousa é muito comum, mas é altamente desgastante e prejudicial, uma vez que a aspiração do pó de giz irrita e resseca a laringe, provocando secura, além de afetar a propagação do som, o que exige o aumento do volume da voz. Visando na “economia” da voz, caminhar pela sala ou em direção a um aluno ou grupo ao qual se destina a situação de fala, é o ideal para evitar esforço, somando ao uso do corpo (gesticulação e expressões faciais) de forma contextualizada.
Fora da sala de aula, há outros cuidados que podem ser tomados para um bom uso da voz, como a alimentação adequada. É recorrente que os professores tomem café antes ou entre as aulas, e assim como os refrigerantes que têm em sua composição cola, desidratam o corpo e por isso, devem ser evitados no período de trabalho. Outros alimentos, como o chocolate e derivados do leite, resultam no espessamento da saliva e aumentam o pigarro, que consequentemente dificultam a articulação e gera atrito das pregas vocais respectivamente, que pode causar lesões nos tecidos da laringe. Atentar-se a alimentação, evitando alimentos pesados e condimentados, previne a incidência ou recorrência de refluxos gastroesofágicos, que é caracterizado pela volta do ácido presente no estômago para o esôfago, que pode atingir as pregas vocais e queimá-las, podendo suscitar rouquidão.
É importante a ciência de que pastilhas para a garganta ou balas que sugerem a melhora de sintomas vocais, podem ser prejudiciais para voz, pois geram um efeito anestésico facilitando novos abusos vocais, além de mascarar a origem do problema ao invés de tratá-la. Para quem depende da voz no dia-a-dia, é recomendado que abandone hábitos nocivos à saúde, como o fumo: a fumaça resseca a mucosa da laringe, como também, causa edemas.
O que não pode faltar, é a ingestão contínua de água durante o dia, principalmente durante as aulas. A água hidrata de forma sistêmica todo o corpo e, por consequência, as pregas vocais, que dependem disto para serem saudáveis e vibrarem amplamente. Outro elemento fundamental, é o descanso vocal ao voltar para casa, que pode ser feito diminuindo o volume e quantidade de uso da voz, acrescido de horas de sono suficientes para a recomposição da energia do corpo que garante uma voz mais limpa.
A melhor solução para os problemas vocais é a prevenção, por isso, antes que haja algum desconforto ou queixa, consultar-se com um fonoaudiólogo é crucial para definir ajustes, selecionar exercícios para aquecimento e desaquecimento vocal, que são personalizados. Porém, se já têm notado que há algo fora do normal como esforço para falar, cansaço intenso, e garganta arranhada ou dolorida, recomenda-se a procura de um médico otorrinolaringologista ou um fonoaudiólogo para ser acompanhado.Contudo, é importante que o professor mantenha hábitos corretos e uma postura adequada para que resulte em uma boa qualidade vocal, visto que sua conduta, além de influenciar a transmissão do conteúdo da aula é também considerada um modelo sólido para os interlocutores que estão em constante observação e por vezes, os imitam.
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AUTOR: Fonoaudióloga Noemi de Oliveira Bispo CRFa 2-20381 | Graduada pela Universidade Federal de São Paulo - Escola Paulista de Medicina | Pós Graduanda do Centro de Estudos da Voz – CEV | Fonoaudióloga Equipe FONOCORP.
Excelente matéria…muito esclarecedora!!!
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